TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO E O RETORNO SOBRE OS INVESTIMENTOS

por Teagan Carlson*

Perdi a conta do número de ferramentas tecnológicas que foram apresentadas diretamente a mim durante meus 14 anos de carreira docente. Eu provavelmente poderia contar o número de ferramentas que experimentei e testei – algo na casa de dois dígitos. E o número de aplicativos, serviços e softwares específicos para educação que usei com frequência? Esses poderia facilmente contar em uma mão.

Como você pode perceber, como professora de inglês do ensino médio trabalhando mais de 50 horas por semana, eu simplesmente não tinha tempo para investir em novas tecnologias. Qualquer tempo “de folga” que eu tivesse (o tempo que meus amigos costumavam usar para progredir em suas carreiras, fazer yoga ou conversar no Facebook) eu dediquei ao planejamento das aulas, revisão de literatura e avaliação de trabalhos.

O único tempo que tinha para descobrir novas tecnologias era durante os cursos de formação continuada e ao longo das férias. Tradução: nunca. A formação continuada era inconsistente, pouco frequente e se concentrava demais em aplicativos de educação infantil como o ClassDojo. E nas férias? A quem queremos enganar – a parte do meu verão que eu não passava em estado de coma autoinduzido, eu estava planejando aulas para o ano seguinte.

É um fato lamentável: existe uma infinidade de tecnologias excelentes para apoiar professores e melhorar a experiência de aprendizado e, se as tendências de investimento em edtech servirem como indicação, veremos ainda mais inovação nos próximos anos.

O problema não é a escassez de produtos. Está no design e marketing dos produtos. Pouco importa o modelo de negócios, se a tecnologia é propagandeada e negociada no nível de secretarias, ou se é um aplicativo gratuito direcionado ao professor-consumidor: o produto terá vida curta se o usuário final não usá-lo .

Para aumentar a conversão e construir uma base de professores fiéis, os esforços de pesquisa, desenvolvimento e marketing precisam se concentrar no retorno sobre investimento.

O retorno

Quando os professores fazem uma avaliação inicial de qualquer tecnologia, assumem que haverá algum investimento envolvido – geralmente relacionado à quantidade de tempo que levará para aprender como usá-la e incorporá-la à prática. Portanto, há pouca motivação para considerar o potencial investimento se não houver sequer garantia de retorno. Se a tecnologia não oferecer um benefício claro, não vou analisar mais nada. Ao avaliar o retorno, os professores procuram o seguinte:

Ajudará a cumprir objetivos de aprendizagem?

O principal objetivo de um professor é fazer com que os alunos atendam aos objetivos de aprendizagem previstos no currículo. Se a tecnologia apoiar isso, ela atende ao requisito principal. A tecnologia apoia ou oferece atividades baseadas na taxonomia dos objetivos educacionais, também popularizada como taxonomia de Bloom?

Para entender quando e por que professores usam tecnologia, procurei Tom Traeger, um ex-colega professor de ciências na Califórnia. Ele afirma ter incorporado um nível de tecnologia fora do normal em suas aulas. Usa Google Suite (um dos favoritos dos professores em geral), lousa interativa e medidores Vernier, principalmente porque todos eles o ajudam a atender os referenciais de ciências.

Aumentará o engajamento?

Um professor pode ter criado uma aula sensacional baseada nos referenciais de aprendizagem, com resultados mensuráveis ​​e orientados por dados, oportunidades para personalização e todas essas coisas legais. Mas isso não significa nada se os alunos não estiverem engajados. E engajamento é mais da metade da batalha na guerra para educar essa geração Snapchat. Se a tecnologia vai me ajudar a alcançar meus alunos mais relutantes ou melhorar uma aula que, francamente, até me entendia (diagramação de frases, alguém ouviu falar?), aí eu topo. Provavelmente é por isso que os aplicativos de resposta e avaliação formativa, como o Pear Deck, o Kahoot e o Exit Ticket, são tão populares.

Emily Wilson, professora da Olive Grove Charter School e outra experiente educadora, notou que a adoção de MyPerspectives por sua rede foi um sucesso entre seus alunos quando eles aprenderam que poderiam usar o aplicativo de smartphone BouncePages para ouvir uma versão em áudio do texto que estavam lendo. Mesmo que a integração da tecnologia tenha sido “um pouco incômoda” no início, o nível de engajamento de seus alunos fez o investimento valer a pena.

Vai facilitar o ensino?

Proporcionar uma experiência envolvente facilita a didática mais que  qualquer outra coisa, mas existem outras maneiras pelas quais a tecnologia pode facilitar o trabalho de um professor. E professores muito ocupados podem ter uma ajudinha. A maioria dos professores que conheço adotou o Google Suite em sua prática. A conveniência de ter acesso a ferramentas administrativas, como planilhas, slides e calendários em uma única plataforma, torna fácil documentar correspondências, dar retorno avaliativo sobre o trabalho escrito e criar rapidamente apresentações atraentes – todas armazenadas em um único local.

Eu sirvo como exemplo. Adotei o Google Sites e o Google Sala de aula como um banco de práticas e um meio de comunicação para pais e alunos, reduzindo muito o tempo gasto na gestão e comunicação sobre tarefas não entregues.

O investimento

Se a tecnologia atender a algum dos requisitos acima (se mais de um, ainda melhor), o professor dirá que o retorno vale o investimento. No mundo edtech, atender a esse quesito é muito mais difícil do que obter retorno do valor aplicado.

Se a empresa de tecnologia contar com financiamento ou tiver uma equipe experiente o suficiente para vender para o usuário final, a tecnologia provavelmente será bastante sólida. Mas é boa o suficiente para que os professores realmente a adotem? Veja o que os professores vão perguntar:

Eu terei que pagar por isso?

O custo de uma tecnologia geralmente não é uma preocupação para os professores; As empresas de tecnologia da informação entendem bem o público para saber que a maioria dos professores não recebe qualquer fundo direto para comprar seus próprios recursos. Portanto, a maior parte da tecnologia é gratuita (com uso limitado, publicidade ou compras no aplicativo), ou é paga no nível da secretaria.

Nos casos raros em que um professor está sendo solicitado a comprar tecnologia, é melhor que seja barato.  Se uma empresa de edtech criar um plano de negócios em que os professores são o principal compradores, a tecnologia precisa ter retornos fora do comum.

Quanto tempo leva para aprender?

Como ilustrado na introdução, professores sentem tanto falta de tempo quanto de salário adequado.

Com tantas horas não pagas gastas no planejamento de aulas, na avaliação e no acompanhamento de tarefas administrativas, há pouco tempo ou energia para explorar novas tecnologias, não importa o quão incrível ou inovadora ela seja.

Posso integrá-la a minha aula com facilidade?

Se um professor tem a capacidade de testar e conhecer novas tecnologias, a avaliação final leva em conta a facilidade de implementação e integração com sua aula. Esse investimento é multifacetado e pode variar muito de acordo com a rede, escola e sala de aula. Isso se deve às seguintes questões:

– Quão difícil será instalar e configurar a tecnologia em sala de aula e quanto tempo será necessário? Os alunos podem usar seus telefones, ou eu precisarei reservar um carrinho de computadores para levar para sala de aula (e então gerenciar a distribuição dos laptops para os alunos?). Se for uma situação de que permite aos alunos usarem seus próprios dispositivos, poderei atender facilmente alunos que não tem?

– Que nível de treinamento os estudantes precisarão para usar a tecnologia? Quanto tempo de aula eu precisarei dedicar para ensinar meus alunos a usá-la?

– Se for uma tecnologia que eu usarei para melhorar a aula por meio de comunicação visual ou jogos, quanto tempo levará para criar essa apresentação? Uma apresentação semelhante pode ser criada em menos tempo e com mais facilidade com algo que já tenho em mãos?

– Minha rede, escola ou sala de aula tem a capacidade de hospedar a tecnologia? Existe o risco que limitações na rede de internet da minha escola façam com que minha apoiada em tecnologia não funcione – e faça com que eu fique tentando encontrar uma solução diante de uma sala cheia de adolescentes?

Esse último item – se a rede da escola pode suportar a tecnologia – parece uma preocupação ridícula à medida que nos aproximamos de 2020. Infelizmente, é uma questão muito real e que impacta desproporcionalmente os escolas rurais e de baixa renda (inclusive no Brasil).

E qual conclusão se tira disso tudo: para alcançar os professores, as empresas de tecnologia educacional realmente precisam entender as dores de seu público e devem estar cientes de que mesmo a tecnologia mais inovadora não pode competir com semanas de trabalho de 55 horas ou sobreviver a uma infraestrutura de má qualidade. Para prosperar no mercado competitivo de tecnologia para educação básica, tudo passa pelo retorno do investimento.

* Publicado originalmente no EdSurge e traduzido mediante autorização pelo site Porvir.

Flavio, por favor, coloque o crédito na foto: GETTY IMAGES