OS CUSTOS DO ENSINO ONLINE: UMA ANÁLISE DO MODELO AMERICANO


19 de setembro de 2019

 

Por Robert Ubell*

No momento em que os gestores das faculdades analisam suas planilhas, ansiosamente procurando a maneira mais produtiva de gastar seus escassos recursos no próximo ano letivo, talvez seja interessante repensar sua abordagem. E investir agressivamente na educação online. Afinal, enquanto há oscilação nas matrículas para cursos tradicionais, os números online continuam crescendo rapidamente.

Projeções dizem que as universidades americanas não têm mais calouros de 18 anos para preencher os milhões de assentos vazios em suas salas de aula. Essa realidade demográfica já levou à falência dezenas de faculdades. Se continuarem seguindo a prática usual de adicionar ou subtrair rotineiramente alguns dólares dos programas existentes, em vez de trabalhar para entrar em novos mercados, suas escolas podem estar em risco.

Esses fatos econômicos cruciais são conhecidos há anos. Então, por que os gestores não aprenderam essas lições, adotando programas de ensino virtuais para tirar suas instituições do buraco financeiro?

A relutância em entrar na internet costuma ser influenciada por um grande mito de sabotagem – a instrução digital seria muito cara para a maioria das faculdades, com alto custo para formar até mesmo uma única classe online. Anos atrás, um artigo num site financeiro relatou que a Udacity, empresa que cria cursos online em larga escala, fez um orçamento de US$ 200.000 por curso, enquanto a edX cobrava US$ 250.000 por seus serviços de design e consultoria.

A revista Forbes revelou que a empresa 2U, gigante de gerenciamento de programas online (OPM), investiu de US$ 5 a 10 milhões em software e marketing para lançar um MBA online na Universidade da Carolina do Norte.

Com números tão altos para entrar na internet, não é de admirar que algumas instituições acadêmicas estejam ansiosos para começar. Então, vamos dar uma olhada um pouco mais calma sobre como iniciar o ensino online sem falir.

Como atrair investimentos online

No Steven Institute of Technology (SIT), onde eu era o reitor da aprendizagem online nos primórdios da educação digital, alguém achou que seria uma boa ideia experimentar um investimento de US$ 350.000 para lançar alguns mestrados online. Isso foi em 1999. Hoje, esse modesto investimento inicial floresceu em 18 certificados de mestrado e 50 de pós-graduação online, representando hoje 3 mil inscrições, ao longo do tempo, e gerando milhões em receitas de ensino digital.

Começando com cautela, seguindo o SIT, qualquer faculdade pode introduzir programas digitais passo a passo, juntando membros do corpo docente para trabalharem junto com novos contratados, especialmente se forem designers instrucionais com experiência. A maioria das faculdades já compra softwares de gerenciamento de aprendizado para seus alunos presenciais, o que pode servir como estrutura para esse campus virtual.

As escolass não precisam lançar suas primeiras graduações online de uma vez só. Taticamente, é inteligente criar apenas um ou dois cursos importantes para entregar no primeiro semestre. As aulas criadas provavelmente subsidiarão as próximas. E assim por diante. No momento em que a faculdade está pronta para lançar a próxima rodada de diplomas online, a receita dos que já foram entregues no semestre inicial ajudará a impulsionar os próximos.

 

Programas de ensino online

podem aproveitar a própria estrutura

física dos cursos presenciais

No Stevens, esse método de autofinanciamento permitiu continuar nossos programas online sem depender de receitas externas, semestre após semestre. Utilizei a mesma abordagem quando me mudei para a NYU (New York University) e também funcionou lá.

Em uma entrevista por telefone no início deste mês, John Vivolo, diretor de educação online na Katz School of Science and Health, da Yeshiva University, descartou os custos inflados de desenvolvimento online, temidos por muitas universidades de primeira linha. “Um programa completo, digamos de seis cursos, deve custar de US$ 150.000 a U$ 200.000”, disse Vivolo. Durante vários anos trabalhei ao lado do Vivolo na unidade virtual da NYU Engineering School.

Naturalmente, muitos dizem que o maior custo não é construir os programas, mas divulgá-los. Mas isso pode ser feito com uma equipe da própria faculdade, argumenta Vivolo. Em vez de criar do zero uma equipe de recrutamento digital e marketing, os novos programas online podem aproveitar os departamentos de promoção universitária existentes, compartilhando conhecimento e orçamento.

Engajando alunos e funcionários no processo

“Muitas vezes, o problema não é dinheiro”, argumentou Vivolo, “mas uma política acadêmica intransigente que impede a equipe de marketing residencial de apoiar novos programas digitais. Se você tratar o campus online e o presencial igualmente, seu investimento de recrutamento pode ser facilmente absorvido”.
Em outra estratégia de economia de custos, Vivolo incentivou novas unidades online a obter suporte dos alunos na gravação e edição de vídeo para os cursos, entre outras atividades técnicas. “Admita que seus cursos podem não ser perfeitos no começo, mas explorando bem os protótipos criados no início ficarão melhores a cada ano”, assegurou Vivolo. “No começo você não precisa lançar cursos super interativos: alguns vídeos e Powerpoints devem dar conta”.

Minha própria experiência na The New School, onde gerencio um projeto de certificação online, é um bom exemplo. A atual geração de funcionários de suporte online pode ser muito intuitiva no uso de técnicas digitais, muitas vezes ajudando a produzir cursos online de qualidade surpreendentemente alta e a baixo custo. Recentemente, em uma sessão de gravação de um curso online, fiquei impressionado com o domínio deles sobre as novas mídias.  Além disso, as faculdades podem avançar para o mundo online recorrendo a uma das dezenas de fornecedoras que ajudam a criar programas de ensino a distância. Nos EUA, há até alguns que podem investir na construção e promoção de programas digitais.

É o que chamamos OPM (Online Program Management), ou empresas que não só ajudam na elaboração dos cursos como participam do recrutamento e também do financiamento desses programas. Neste caso, alguns subsidiam os programas em troca de uma porcentagem sobre as receitas geradas. Há também OPMs que oferecem um menu de serviços técnicos, pedagógicos e de recrutamento, permitindo que a faculdade administre parte do trabalho.

É provável que, neste momento, a diretoria de sua escola esteja pensando em reformar o ginásio de esportes ou instalar um restaurante vegano no campus, ou quem sabe montar um auditório gigante com sistemas de projeção. Só que nenhuma dessas melhorias irá adicionar um único dólar à instituição. É muito mais prudente transferir o dinheiro de investimentos neutros como esses, para convertê-lo em moeda digital, atraindo um fluxo inteiramente novo de receita online.

É claro, não há garantia de que, ao introduzir o ensino virtual, sua instituição irá decolar. Mas, se não o fizer, há uma boa chance de fracassar. Quando o College Newbury, uma pequena faculdade particular em Massachusetts, fechou as portas durante esta primavera, seu presidente, Joseph Chillo, foi questionado se havia algo que poderia ter sido feito para salvá-la. “Sim”, ele disse. “Nós deveríamos estar trabalhando online”.

*Artigo publicado originalmente no site Edsurge, especializado no financiamento educacional. Clique aqui para ler o original na íntegra.