INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E SEUS IMPACTOS NA INDÚSTRIA AUDIOVISUAL


8 de março de 2019

Por André Atique* “Nós achamos que a Inteligência Artificial (IA) terá o maior impacto quando todos tiverem acesso a ela”. Esta é uma frase extraída da página da Google sobre IA, mas o que isso significa?

Falando do conceito, Inteligência Artificial é a ciência responsável por fazer com que máquinas ajam racionalmente, como pessoas. A Google apresenta de forma resumida em sua página questões acerca da formulação do pensamento, capacidade de raciocinar logicamente e temas concernentes à construção da IA, mas que tornam a análise muito subjetiva.

A mente humana é a referência para o desenvolvimento de uma IA. No entanto, sua construção de pensamento não é tão lógica assim. Pessoas podem ter linhas de pensamento diferentes dependendo da criação, influência social, estudos etc. E isso não significa que algumas pensam e outras não. Todas elas pensam e apresentam respostas coerentes! Logo, o que deve ser avaliado é como a máquina responde a um input de informação e não “as linhas filosóficas” (ciência cognitiva e neurociência computacional) que ela assumiu para apresentar a resposta.

Dessa forma, uma das maneiras mais adequadas de tratar o tema é a definição de que “não interessa como uma máquina pensa, mas sim como se comporta”, ou seja, o que importa é o resultado final e não como ela fez para alcançá-lo. Faz parte da inteligência artificial a máquina conseguir obter e tratar, de forma racional, informações oriundas de diversas fontes, como: texto, imagem, som, entre outros. Para que as máquinas consigam ter os dados corretos para a tomada de decisão, é fundamental pensar não só na captação, mas no tratamento destes.

 

“Ao utilizar serviços como Google,

Apple, Facebook etc., todos nós estamos ajudando

a criar algoritmos cada vez mais precisos”.

 

Apenas para ilustrar este tratamento da informação, apresento-lhes conceitos como NLP (Natural Language Processing), Machine Learning e Deep Learning, os quais veremos a seguir.

NLP – Quando falamos de textos, se analisarmos as frases “O José vai viajar de avião. Ele tem medo de altura”, nós associamos o medo de altura ao José porque avião não sente medo, mas a máquina não sabe disso. Para isso acontecer, é necessário usar o NLP, que visa trazer uma contextualização à máquina. Isso é bastante usado no Google Translate, por exemplo. Uma palavra pode mudar seu significado dependendo do contexto. À medida que as palavras vão sendo corrigidas, o Google Translate através do NLP vai “aprendendo” a traduzi-las de acordo com o contexto.

Machine Learning – Este conceito trabalha com a obtenção de informação através de inputs de dados por parte do usuário, visando a adaptação e melhoria dessas atividades, ex: quando você classifica filmes no Netflix, ou mesmo quando você só os assiste, pelo seu histórico de gostos e visualizações, a Netflix consegue através do Machine Learning sugerir filmes que provavelmente não irão te decepcionar.

Deep Learning – É um tipo de Machine Learning, mas que visa tangibilizar informações abstratas, como imagens estáticas, imagens dinâmicas, análise comportamental de clientes, processo de detecção de doenças e afins. Ex: imagine que você apenas tirou uma foto do seu cachorro e não colocou nenhum identificador nela, como legenda, tag, etc. Na área de “busca” do seu aparelho, você coloca “Golden Retriever” (raça do seu cachorro) e vem a foto que você tirou! Isso é um exemplo de Deep Learning.

E o mais impressionante é que todos nós, usuários de tecnologia, sem percebermos, estamos ajudando empresas como Google, Apple, Facebook etc. a terem algoritmos cada vez mais precisos. Você provavelmente já preencheu um formulário de cadastro numa página WEB onde no final apareceu um teste para garantir que você não é um robô. Neste teste, você precisa clicar nas imagens que mostram um “caminhão” por exemplo. Além de você de fato provar que não é um robô, você também está ajudando o Google a tornar seu algoritmo de Deep Learning mais assertivo.

 

O Mercado de AV + IA

A indústria audiovisual está presente em todo lugar. Displays grandes ou pequenos, sistemas de áudio simples ou complexos, estruturas de rede de computadores locais ou globais, automação e IoT (Internet of Things), são exemplos da indústria presente nas corporações e residências. É uma tendência que alguns tipos de hardware deixem de existir para virarem serviço.

O Blu-ray Player foi substituído pelos serviços de vídeo por streaming; o CD Player foi substituído pelos serviços de áudio por streaming; em muitos lugares, os TVs locais foram descartados pelo aumento do uso de aparelhos mobile; CODECs de videoconferência estão sendo substituídos pelo conceito do BYOD (Bring Your Own Device), somado a uma plataforma Cloud etc.

Existem diversos exemplos de como a indústria audiovisual tem migrado para soluções em rede, e isso não é apenas uma tendência deste segmento, mas sim uma consequência do mercado de tecnologia mundial que desbrava a mesma trilha.

Com as informações sendo centralizadas em serviços web, usuários e empresas abriram um canal direto para troca constante de informações, estabelecendo assim uma grande avenida para a IA.

Mark Zuckerberg, sócio fundador do Facebook, no final de 2016 publicou um vídeo onde ele opera a sua casa com um assistente de IA chamado Jarvis. Este assistente de IA interage com Mark através de comando de voz utilizando duas vias de comunicação, onde a pergunta e a resposta podem partir tanto dele quanto de Mark. Neste vídeo através do Jarvis, Mark opera as cortinas da casa, luzes, climatização, tem acesso a sua agenda, feed de notícias e até monitora sua filha Max e ensina mandarim a ela.

 

“A análise das necessidades do cliente

(Need Analysis), é parte fundamental para

o desenvolvimento de um bom sistema”.

Ok, isso parece bem exagerado, mas a indústria da tecnologia está apontando para uma interação próxima entre sistemas e usuários, e com certeza isso chegará na indústria audiovisual. Faz parte do conceito da automação residencial e corporativa, além do controle unificado e simplificado, tornar o sistema capaz de tomar algumas ações sem precisar da intervenção do usuário, de acordo ou não com condições locais. Ex: “Caso a luz natural esteja muito forte, baixar as cortinas”, “caso a iluminação natural esteja clareando o local, diminuir a intensidade da iluminação artificial”, “caso não tenha ninguém no ambiente, desligue-o”, e iguais a estes existem muitos outros exemplos.

O que a IA está propondo é que não só informações tangíveis sejam tratadas, como entradas de sinal digital ou analógico vindas dos sensores, mas um nível de interação com o usuário em toda sua vida e por todos os lados.

*Imagine ter integrado, além dos seus ativos tecnológicos, todas as informações de suas preferências musicais e o sistema avisar sobre shows e eventos;

*Cenas de luz, e elas sempre se ajustarem automaticamente de acordo com seu histórico de acionamentos;

*Filmes preferidos, e o sistema te avisar de lançamentos no cinema e em plataformas de streaming;

*Atividades de lazer, e através de RSS o sistema te direciona para a melhor opção de acordo com o clima/horário/trânsito;

*A casa tendo um AVATAR animado e bem humorado, com o qual você pode interagir por mensagem de texto e voz, local ou remoto, e por aí vai.

Com IA, as maneiras de controle e interação com os dispositivos tecnológicos e, por conseguinte com a indústria audiovisual, ficaram infinitas.

Falando sobre implantação de sistemas, hoje todo projeto de multimídia e automação precisa passar por uma análise das necessidades do cliente e pré-requisitos do sistema. Dentro das normas da AVIXA, existe a fase de programação (Programming Phase) onde reside a análise das necessidades do cliente (Need Analysis), parte fundamental para o desenvolvimento de um bom sistema por respeitar a importância da coleta de dados antes do desenho e etapas posteriores do projeto. Isso ajuda a manter o cliente satisfeito desde o início.

Todo esse processo de análise é fundamental, e provavelmente nunca deixará de existir. No entanto, a implantação do sistema de acordo com as necessidades do cliente pode sofrer alterações consideráveis. Atualmente, depois do comissionamento do sistema, é sadio acompanhar o uso deste pelo usuário e promover algumas adaptações na programação visando adequá-lo totalmente ao gosto do usuário. Seguindo a linha do parágrafo anterior e juntando com o Machine Learning, essa adaptação poderá ser feita pelo próprio sistema de automação usando IA. Satisfação garantida sem maiores interações humanas!

Agora, o Avatar pareceu algo surreal, não é? De fato, interagir com uma máquina neste nível de intimidade parece loucura, mas o quão louco é isso? A indústria do cinema já explorou o tema com o filme “Her”. Um homem solitário chamado Mr. Theodore criou um sistema operacional com IA para deixar de se sentir só. Este sistema foi aprendendo sobre Mr Theodore ao ponto de conseguir ser uma “pessoa” perfeita para ele. É claro que no filme o Mr Theodore se apaixonou pelo sistema operacional, mas a questão em jogo é: pode um sistema operacional suprir a solidão de uma pessoa?

 

“Uma máquina já conseguiu

o feito de se passar por uma pessoa:

o juiz não sabia se de fato era

uma máquina ou um humano”.

 

Alan Turing (1912-1954), matemático e cientista britânico influente no desenvolvimento da ciência da computação, desenvolveu um teste comportamental para uma máquina, onde pessoas e máquinas começariam a interagir virtualmente com perguntas e respostas. Este teste foi nomeado de “Teste de Turing”. O objetivo não é dar respostas certas, mas sim fazer com que o comportamento da máquina seja igual ao de um ser humano.

Em 2012, uma máquina conseguiu o feito de se passar por um humano e o juiz não saber se de fato era uma máquina ou um humano. Existe uma empresa chamada Gatebox que está se especializando em criar um personagem animado que funciona como uma pessoa na casa. Este personagem te deseja “bom dia”, fala do horário, previsão do tempo, interage por voz e texto, te faz companhia nas atividades domésticas, e tudo isso com muita pessoalidade e personalidade. Até parece que você está de fato convivendo com alguém dentro de casa.

Voltando ao início, o que a Google quis dizer com a frase: “Nós achamos que a Inteligência Artificial (IA) terá o maior impacto quando todos tiverem acesso a ela”? A IA visa racionalidade com pessoalidade. Tudo se moldará ao gosto do usuário, e a forma que isso será feito irá impactar a vida de todos para sempre. A indústria audiovisual já está seguindo por este caminho, mas e você?

Links:

https://sites.google.com/site/inteligenciaartificialist/a-importancia-do-cerebro-humano

https://tecnoblog.net/157935/computador-passou-primeira-vez-teste-de-turing/

https://ai.google/about/

https://gatebox.ai/character/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Teste_de_Turing

https://www.avixa.org/