EDIFÍCIO INTELIGENTE: EU QUERO MORAR/TRABALHAR EM UM


26 de fevereiro de 2018

Por George Eric Wootton*

A onda agora é tudo “Inteligente”; é Casa Inteligente, Edifício Inteligente, Cidade Inteligente, Carro Inteligente… Mas, o que realmente significa essa “Inteligência”? E como ela se aplica ao Edifício Inteligente? Não vou entrar nos detalhes técnicos envolvidos, mas podemos dizer que essa inteligência considera os seguintes fatores:

  • Precisamos de dados vindos diretamente da coisa inteligente, seja ela uma casa ou um edifício. Isto significa que, obrigatoriamente, essa coisa precisa ter sensores nos enviando esses dados. Podemos estar falando de sensores de temperatura, de presença, de luminosidade, de nível de reservatórios de água, entre tantos.
  • Precisamos de dados vindos do ambiente onde essa coisa se encontra, e esses dados normalmente são fornecidos por sensores de outras coisas inteligentes. Um exemplo seria o uso dos sensores da iluminação pública para “saber” que há nuvens cobrindo o sol a uns 500 metros de distância e vindo em sua direção.
  • Precisamos de formas de atuar sobre a coisa inteligente. Isso pode ser feito através de equipamentos comandando a iluminação, os aparelhos de ar condicionado, as cortinas, as fechaduras, as bombas de água…

 

Precisamos da inteligência. Esta pode ser dividida em três partes:

o   A chamada Inteligência Local, que está dentro da coisa inteligente, dependendo apenas de redes de comunicação internas. Essa inteligência será responsável pelas ações imediatas, pré-programadas, como regular a iluminação conforme informações de seus sensores de luminosidade.

o   A chamada Inteligência na Nuvem, localizada com algum provedor de serviços. Esta parte é responsável por receber os dados da coisa inteligente, buscar os dados complementares de terceiros, como serviços de meteorologia ou avisos de disponibilidade de energia elétrica vindos da distribuidora. Essa inteligência transforma os dados em informação e a usa para coordenar as ações globais, incluindo a passagem de instruções para a Inteligência Local, a interação com os usuários e a apresentação de informações gerenciais para auxílio à tomada de decisões por parte dos gestores da coisa inteligente.

o A chamada Inteligência Artificial, também localizada em uma plataforma na Nuvem. Esta parte é responsável por observar, aprender, “inferir” e redefinir objetivos. Ela acompanha as informações vindas da coisa inteligente ao longo do tempo e as analisa, visando detectar comportamentos repetitivos e assim poder prevê-los. Um exemplo dentro de um edifício seria “entender” que mesmo os funcionários em home office (que vêm ao escritório apenas quando querem) têm um comportamento previsível e costumam vir com mais frequência na última quinta-feira do mês. Com isto, a Inteligência Artificial pode prever e preparar a necessidade de maior consumo de ar condicionado, energia elétrica e até vagas no estacionamento.

A Inteligência Artificial também é muito útil para observar comportamentos fora de um padrão esperado, principalmente quando falamos de equipamentos elétricos como bombas e elevadores, e com essas informações determinara necessidade de manutenção preventiva. Um exemplo da aplicação destes três níveis de inteligência seria o controle de luminosidade de dentro de um refeitório. A Inteligência Local, utilizando as informações de sensores de presença e de luminosidade, comanda a iluminação conforme a presença de pessoas no ambiente. Com um pouco de esforço, poderia até dividir o ambiente em zonas e comandar as zonas individualmente. Se alguém se dirigir a uma zona que está mal iluminada, a Inteligência Local acenderá as luzes desta zona.

Já a Inteligência na Nuvem fará o controle mais preciso da intensidade necessária, conforme informações sobre a luminosidade externa e a quantidade de pessoas presentes em cada zona, passando essas informações para a Inteligência Local comandar a iluminação com mais refinamento.

Inteligência Artificial observou ao longo do tempo a curva de ocupação do refeitório minuto a minuto e sabe prever o fluxo ao longo do dia. Assim, essa Inteligência coordena a iluminação de cada zona de acordo com a necessidade, iluminando determinada zona apenas momentos antes de ser necessária, como que convidando os usuários a ocupar este espaço. Mas também buscará otimizar a ocupação, instruindo a Inteligência Local a não iluminar determinada zona mesmo que pessoas se dirijam a ela, enquanto houver espaços vazios nas áreas já iluminadas.

Tudo isso para falar sobre Edifícios Inteligentes. Mas por que queremos Edifícios Inteligentes? Com certeza, há um investimento em tecnologia que precisa ser feito, e esse investimento precisa trazer um retorno financeiro, senão será muito difícil de se justificar. Um dos principais focos é aumentar a eficiência energética, justificando o investimento pela redução de custos que pode ser obtida.

Mas há outros fatores que podem contribuir para aumentar os retornos tangíveis e não-tangíveis. As três maiores áreas são: segurança, custo operacional e rápida adequação às legislações e políticas de incentivo governamentais. Depois do investimento feito e dos principais retornos financeiros e operacionais obtidos, há ainda várias áreas onde a “Inteligência” do edifício pode ser usada, melhorando o gerenciamento dos ativos e do conforto de seus ocupantes.

 

*O autor é consultor em automação e Internet das Coisas, além de diretor técnico da Aureside (Associação Brasileira de Automação Residencial e Predial). O artigo foi publicado originalmente no blog IoT no Brasil.