TECNOLOGIA E SEUS IMPACTOS NOS PROJETOS DE ARQUITETURA


8 de junho de 2020

Por André Luis Atique*

A tecnologia vem mudando a sociedade em diversos aspectos, transformando sua maneira de se relacionar, provendo informação, proporcionando entretenimento e mudando a cultura e hábitos. Pensando nisso, analisando holisticamente a hierarquia das necessidades de Abraham Maslow [1], o ser humano tem 5 necessidades básicas, e para cada uma delas existem aplicativos correlatos, corroborando a tecnologia arraigada na sociedade:

         1.Fisiológica – necessidades básicas para a vida como respirar, comer, beber (iFood, Dr Consulta, apps de planos de saúde);

  1. 2.Segurança – necessidade de nos sentirmos seguros (localização de celular, fintech, Uber);
  1. 3.Social –necessidade de se relacionar com as pessoas (facebook, tinder);
  1. 4.Estima – necessidade de nos sentirmos dignos, estimados, autoconfiantes (twitter, linkedin, EaD, Kindle

         5.Autorrealização – necessidade de se sentir bem, fazer o que gosta, perceber evolução (Instagram, Decolar, AirB&B).

Para suportar todas essas mudanças de comportamento e todos esses recursos disponíveis nas mãos dos usuários no formato de aplicativos e serviços, o hardware precisou evoluir. Computadores que antes serviam basicamente para estudos e trabalho, hoje são plataformas multitarefas com câmera, caixas de som, reconhecimento digital e alta capacidade de processamento.

 

Com os novos recursos audiovisuais,

as pessoas não estão mais presas

às barreiras das distâncias.

Da mesma forma, os celulares evoluíram trazendo ainda mais recursos do que computadores convencionais, tirando fotos, fazendo filmes, pagando contas, auxiliando a investir na bolsa, organizando compromissos, guardando ingresso do cinema, previsão do tempo, GPS, e-reader, navegação na internet… e ainda faz ligações.

Todo esse poder de hardware deu às pessoas a possibilidade de fazerem uso da tecnologia no seu mais alto nível, interagindo em todas as esferas de suas vidas assim como exposto acima.

Explorando o contexto da comunicação, as pessoas entenderam que não estão mais presas às barreiras das distâncias, podendo falar e ver umas às outras, fazendo aqui uso de recursos audiovisuais. Knock [2] diz que a comunicação virtual é mais complexa do que a física por exigir uma carga cognitiva (atenção, percepção, memória, criatividade…) maior do que a natural, mas que todos conhecem o ambiente real e isso facilita a adaptação ao uso da mídia.

 

SLIDESHOW: IMAGENS INCRÍVEIS DE PROJETOS COMBINANDO TECNOLOGIA E ARQUITETURA

 

O contexto de isolamento social fez com que atividades antes inimagináveis possam ser feitas de forma remota. Happy hours, casamentos, festas de aniversário, cultos religiosos, reuniões sociais são alguns exemplos disso. A tecnologia por meio dos recursos audiovisuais fez com que pessoas da mesma cidade fiquem tão próximas quanto pessoas em países diferentes, e uniu todas as faixas etárias com a simplicidade de conexão.

A evolução na interação da sociedade com a tecnologia vem impactando ainda a cadeia econômica. Na indústria do entretenimento, por exemplo, empresas como Netflix, Amazon e YouTube encurtaram o caminho entre o espectador e o produtor de conteúdo, analisando o perfil dos usuários e oferecendo material específico de acordo com suas escolhas e gostos. Sejam bem-vindos à era da macrotransição tecnológica.

 

TECNOLOGIA AUDIOVISUAL EM ESPAÇOS CORPORATIVOS

 Entendendo essa realidade da tecnologia na vida das pessoas e como esta facilita a comunicação, seria leviano concluir que o meio corporativo permaneceria intacto. Tecnologia para as pessoas significa evolução, inovação, renovação, informação, e ambientes que não acompanham essa integração, do físico com o digital, ficam descolados da realidade.

Dentro de um cenário de economia recessiva, por conta do isolamento social causado pela COVID-19, como será a volta à rotina em um ambiente onde as pessoas precisam se relacionar, mas com contato físico restrito? A resposta é conectividade em todo o lugar! Pela primeira vez, executivos e funcionários de escritórios estão priorizando a tecnologia, pois esta se tornou mandatória para o exercício de suas atividades.

Se relacionar é fundamental para os negócios continuarem, e a tecnologia proporciona que pessoas de organizações diferentes e/ou iguais possam se reunir em uma sala virtual interagindo por voz e vídeo. Quanto mais recursos existirem na comunicação, melhor ela será. As plataformas de reuniões remotas tornaram as pessoas ainda mais produtivas, encurtando distâncias e resumindo o tempo com deslocamento. Todos estão a um clique de distância.

 

No Brasil, 95% dos escritórios pretendem

explorar mais o trabalho remoto,

mas não migrar totalmente.

 

O home office vai mudar muita coisa nos ambientes corporativos. Falando de espaço físico, pegando como exemplo uma empresa com cerca de 1.000 funcionários, se ela precisar de estação de trabalho para todos, bem como salas de reuniões e afins, a empresa tem um determinado custo. Mas, se essa empresa promover um rodízio de 20% dos funcionários em home office uma vez por semana, poderá economizar em todos os seus custos fixos relacionados a aluguel e contas provenientes desse espaço.

De acordo com pesquisa realizada em 400 escritórios corporativos no Brasil, 95% destes pretendem explorar mais o trabalho remoto, mas não migrar totalmente [3]. Mediante esse cenário, para se adaptar à nova realidade a empresa precisará estruturar uma política de home office e fazer a gestão de estações de trabalho, não dando lugar físico aos funcionários, mas lugares rotativos agendados digitalmente.

Essa gestão é possível através de sistemas de agendamento de hotdesks e salas de reunião onde o usuário define, dentro das políticas da empresa, os dias em que irá ao escritório e em qual estação de trabalho ficará.

Outro ponto é sobre o formato e as tecnologias necessárias para se fazer uma reunião. Atualmente a maioria das pessoas está adaptada às plataformas de reuniões remotas (Skype, Teams, Zoom etc.), portanto, o desafio é trazer essa realidade para o conceito do projeto.

A tecnologia avançou neste quesito também, trazendo soluções onde o usuário chega com seu computador na sala de reuniões, conecta-o via HDMI e USB na interface de mesa e usa sua plataforma de videoconferência habitual, com microfones profissionais, caixas de som profissional e display adequado presentes na sala. Isso, além de ser um recurso muito atual, é mais barato que sistemas de videoconferência convencionais. Este já é um dos conceitos mais usados nos projetos.

Falando de hardware, uma terceira tendência nas empresas é tentar fugir de problemas de conectividade. Existem diversos modelos de computadores, e é comum encontrar conexões de vídeo das mais variadas possíveis (HDMI, VGA, DVI, DisplayPort, USB-C etc.). Além dos computadores, os usuários também têm a necessidade de transmitir sem fio o conteúdo do celular em uma tela.

Para resolver essa questão, a indústria audiovisual trouxe um hardware onde o usuário se conecta a ele sem fio e consegue transmitir o conteúdo do seu computador ou celular para qualquer tipo de display, como TVs, Monitores e Projetores.

Mas, como ficam os espaços públicos, fachadas, áreas comuns, lobbies e halls? A tendência é que se tornem “contadores de histórias”, harmonizando tecnologia e arquitetura.

 

ARQUITETURA DE MÍDIA EM ESPAÇOS PÚBLICOS

 Existe um conceito em ascensão na arquitetura, chamado “Arquitetura de Mídia”. Este defende a concepção de um espaço de forma integrada com a tecnologia. Brynskov et al. diz que a arquitetura de mídia é o “conceito abrangente que engloba o design de espaços físicos em escala arquitetônica, incorporando materiais com propriedades dinâmicas que permitem comportamento dinâmico, reativo ou interativo” [4].

A ideia é promover essa integração de tal forma que o espaço possa se comunicar com os usuários, provendo informações coordenadas, assertivas ao público, interativas e ter a tecnologia esteticamente incorporada ao ambiente.

Indo mais a fundo no conceito, o que seria uma má aplicação e uma boa aplicação da arquitetura de mídia? Uma má aplicação seria uma TV pendurada na parede passando um conteúdo de TV por assinatura, em desarmonia com o ambiente, tanto em estética quanto ao propósito e conteúdo. Para Webster, “as instalações digitais devem ser tratadas como um material arquitetônico que precisa ser manuseado com cuidado, bem projetado e com propósito” [5].

 

 

Uma boa aplicação dinamiza, empolga e expressa uma narrativa do espaço, situação encontrada no novo escritório da Serasa Experian (foto acima), na Torre Sucupira, na cidade de São Paulo. O objetivo do projeto foi transformar o hall de entrada em um ambiente que contasse a história da empresa e impactasse a todos. Para isso foi montado um painel de LED no forro e parede transformando o hall em um ambiente imersivo neste conceito.

Resultado: os funcionários começaram a postar nas redes sociais vídeos espontâneos no hall, as visitas ao espaço aumentaram e o presidente participou de um vídeo sobre o projeto onde ele aparece no painel contando a história da empresa, falando sobre a marca forte que representa e sobre encantar clientes. O hall dos elevadores virou a estrela do projeto, pois uniu o conceito do espaço com a tecnologia.

Mais interações sociais, novas

representações visuais e melhor integração

entre os materiais e o ambiente.

Toda empresa quer passar uma imagem de atualizada, tecnológica, inovadora, inspiradora, mas como fazer isso? Para ajudar a explorar um pouco mais o conceito, Hoggenmueller et al. traz 5 definições sobre arquitetura de mídia [6]:

  1. 1.Integração física da tecnologia de exibição na arquitetura: é a utilização de componentes tecnológicos como parte do conceito do espaço. Um exemplo disso é o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, com grandes painéis multimídia compondo um ambiente imersivo e imponente onde cada parte conta parte da mesma história.
    2.Estética do material do meio: se preocupar com a composição do material e como este se integrará ao ambiente de forma a fazer parte dele. Buscando uma nova maneira de se comunicar com o público e também uma aparência moderna, o Museu de Arte Moderna Kunsthauz Graz, na Áustria (veja aqui o vídeo), usou um sistema de iluminação cênica em toda a sua “casca”, mandando mensagens de texto ao público ou apenas sendo divertido.
  1. 3.Aspectos comunicativos e informativos da arquitetura de mídia: painéis informativos em rodovias, ruas e praças têm sua função, contudo é necessário considerar não apenas o material da comunicação, mas também como se comunicar com o público. Buscar representações visuais novas e criativas ou transformar espaços públicos em ambientes lúdicos aumentados. Para ilustrar, imagine uma iluminação externa de um prédio que muda de cor com botões disponibilizados ao público, trazendo interação, novidade e promovendo o empreendimento; (aqui entra foto MUDAR DE COR)
  1. 4. A consideração de aspectos contextuais desempenha um papel importante para uma implantação bem-sucedida em espaços públicos: seguindo o conceito de visualizações urbanas situadas, Vande Moere e Hill enfatizam que as visualizações embutidas na forma de exibições físicas precisam respeitar e responder às características do local circundante, fornecendo informações relacionadas ao contexto local e que oferecem relevância sociocultural para a população local [6];
  1. 5.Arquitetura de mídia facilita e melhora as interações sociais no ambiente urbano: como as experiências interativas são cada vez mais predominantes no ambiente construído, a interatividade também se tornou um aspecto importante na pesquisa de arquitetura de mídia (veja neste vídeo). No entanto, não vemos a interatividade como um princípio em si. Em vez disso, sugerimos que, para que a arquitetura de mídia interativa seja bem-sucedida, ela precisa atender aos princípios mencionados acima. Um display que apresenta um conteúdo interativo relacionado ao contexto sociocultural do local pode ser uma ideia deste contexto;

Conclui-se que a sociedade é tecnológica e todas as esferas estão se transformando de acordo com a macrotransição representada por esta era. Tanto espaços fechados quanto públicos estão se adaptando às demandas trazidas pela humanidade, se tornando mais adaptados ao remoto, ao virtual, provocando inovação e interatividade. Os espaços também precisam estar bem harmonizados para tornar essa realidade aprazível, empolgantes e gerar ainda mais engajamento nas pessoas. Portanto, é através desta simbiose da arquitetura com a tecnologia que se pode encontrar a melhor resposta para os espaços públicos e privados do futuro.

* Gerente de Pré-Vendas da Eletroequip/AW Digital

 

[1] Abraham H. Maslow (1987), Motivation and personality (3rd ed.). New York

[2] Knock, N. (2001), “Compensatory adaptation to a lean medium: an action research investigation of electronic communication in process involvement groups”, IEEE transactions on Professional Communication, Vl 44, N°4, pp 267-85

[3] AGÊNCIA O GLOBO. No pós-pandemia, escritórios ficarão com mais cara de casa, diz o arquiteto Sérgio Athié. Pequenas Empresas Grandes Negócios. Disponível em https://revistapegn.globo.com/Administracao-de-empresas/noticia/2020/05/no-pos-pandemia-escritorios-ficarao-com-mais-cara-de-casa-diz-o-arquiteto-sergio-athie.html

[4] Martin Brynskov, Peter Dalsgaard, and Kim Halskov (2013), Understanding media architecture (better): one space, three cases. In Proc. of the workshop on interactive city lighting (CHI 2013). ACM, New York. spectacle in an urban light festival.

[5] Webster, Emily. Transformando lugares em experiências: as tendências da arquitetura com mídia para 2020. AVIXA, 06 de fev de 2020. disponível em https://www.avixa.org/pt/insight/blog/blog/2020/02/06/transformando-lugares-em-experiencias-as-tendencias-da-arquitetura-com-midia-para-2020

[6] Marius Hoggenmueller, Alexander Wiethoff, Andrew Vande Moere and Martin Tomitsch (2018), Pages 106–117. A Media Architecture Approach to Designing Shared Displays for Residential Internet-of-Things Devices. In Proceedings of the 4th Media Architecture Biennale Conference. DOI: https://doi.org/10.1145/3284389.3284391

 

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