ÁUDIO, VÍDEO E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO ENSINO SUPERIOR


13 de abril de 2020

Por Margot Douaihy*
Existem muitas teorias sobre Inteligência Artificial (AI). O que não se discute é a sua crescente popularidade. Consumidores a estão adotando rapidamente, e fabricantes investem pesado em pesquisa e desenvolvimento. Mais de 80% dos executivos entrevistados pelo MIT enxergam AI como uma oportunidade estratégica. De uma forma ou de outra, essa tecnologia está acelerando a entrega de soluções em reconhecimento facial e de voz, processamento de linguagem e análise de dados, além de novos recursos de busca e dos assistentes virtuais.

Um segmento em particular – educadores e diretores de instituições de ensino – estão acompanhando de perto a evolução da AI, com o objetivo de entender como seu uso mais intensivo pode melhorar o desempenho nas salas de aula. A pergunta é: como AI pode agregar valor aos sistemas tradicionais de áudio e vídeo no campus?

Para um diretor técnico de uma universidade, pode ainda não ser evidente o cruzamento entre AI, AV e Academia. Inteligência, analytics, gravação, gerenciamento e distribuição de vídeo são integrantes naturais da AI. Essa tecnologia oferece a capacidade de filtrar milhares de horas de vídeo acadêmico para criar conteúdos personalizados aos estudantes. Isso, além de coletar dados mais confiáveis sobre quem de fato assiste aos vídeos.

 

Para exibição de vídeos com imagens

dos alunos, pode ser necessária

autorização oficial deles.

 

No entanto, existe um gargalo na implantação da AI, que funciona melhor quando se dispõe de uma grande quantidade de dados. Na educação, para se poder mensurar os benefícios, é necessário que o sistema de AI tenha acesso ao maior número possível de vídeos. Só que isso implica em importantes questões de compliance.

Os responsáveis pela universidade têm que avaliar quais vídeos podem se tornar públicos e como os estudantes são identificados nesses vídeos. AI oferece enormes vantagens, por exemplo, em reconhecimento facial e reconhecimento de objetos, mas essas são áreas complexas. Muitos educadores questionam se os rostos dos estudantes podem ser exibidos sem autorização.

Há ainda a questão da legendagem. É preciso verificar se isso é obrigatório, dependendo da legislação. O software Watson Captioning, da IBM, por exemplo, utiliza AI para automatizar o processo de legendagem em transmissões ao vivo e vídeos sob demanda.

Com a evolução da AI, torna-se necessário que gestores de universidades e seus gerentes técnicos trabalhem juntos para encontrar o equilíbrio entre acessibilidade e responsabilidade ética e social. As normas da instituição devem assegurar a privacidade dos estudantes, ao mesmo tempo em que se definem as tecnologias que oferecem melhor suporte aos diversos estilos de aprendizagem.

 

Recursos de Inteligência Artificial

são usados tanto nas aulas

quanto nas provas de avaliação

 

Embora se fale mais de vídeo, os recursos de áudio são ideais para avançar no uso de AI nas escolas. Pode-se afirmar que o áudio é o item mais importante em qualquer espaço de gravação, seja uma aula, palestra, debate ou conferência. Nove de cada dez estudantes irão prestar atenção num vídeo de baixa resolução, mas o mesmo não se pode dizer de um áudio de baixa inteligibilidade.

Num sistema integrado típico para sala de aula, são usados microfones de lapela para o professor ou instrutor, mas também outros tipos de microfone para os estudantes: fixos (amplificados), direcionais (como os goosenecks) e até microfones de teto, que conseguem captar até as perguntas dos alunos sentados no fundo da sala. É interessante também adotar filtros ou processadores para redução dos ruídos no ambiente, que hoje em dia também contam com recursos de AI do tipo machine-learning.

Instituições como a Universidade Penn State, na Pensilvânia, podem servir de exemplo sobre a implantação de AI não apenas nas aulas cotidianas, mas também nos trabalhos online e até nos exames de avaliação. Equipamentos de áudio e vídeo foram instalados nas salas para permitir o registro de tudo que é apresentado – tanto as falas dos professores quanto os comentários, questionamentos e reações dos alunos.

De posse das gravações, uma equipe de educadores analisa as atividades desenvolvidas e desenvolve materiais complementares. O resultado é o que se chama “apostila viva” (living textbook), conteúdo que pode então ser compartilhado com outras turmas da escola, inclusive online.

A estratégia inclui permitir que os estudantes também contribuam com comentários e sugestões de conteúdos adicionais, que passam a fazer parte da apostila online. Essa prática está sendo valiosa para ampliar o engajamento, e não apenas dos estudantes, pois torna mais dinâmicas as interações com os professores e beneficia toda a comunidade universitária.

 

Nos EUA, empresas de tecnologia estão

procurando universidades para montar

laboratórios dentro do campus.

 

Em várias instituições americanas, já ficou provado que o acesso a assistentes virtuais, aplicativos e planos de estudos personalizados, baseados em AI, são um grande fator de atração dos estudantes. Em muitos casos, são as universidades que estão fazendo florescer um “ecossistema AI”, seja para testar os recursos em sua fase inicial, seja para formar talentos que mais tarde se tornarão “inventores” de tecnologia.

Uma única empresa, a já citada IBM, anunciou investimentos superiores a US$ 2 bilhões para aumentar sua presença nos campi do estado de Nova York, o que inclui construir laboratórios de hardware, centros de pesquisa para produção de chips e centros de desenvolvimento e testes de produtos.

Já é consenso que as tecnologias de áudio e vídeo são parte integrante das instituições de ensino. E, com a adesão crescente de mais e mais classes, o consumo de conteúdos AV será cada vez mais influenciado pela AI. Como define Rob Lipps, VP da empresa de software Sonic Foundry: “A ideia é tornar os conteúdos mais organizados e fáceis de serem descobertos. Imagine um estudante criando uma playlist de vídeo a partir de uma simples busca por palavra. Agora, imagine espalhar esse recurso para toda uma comunidade”.

 

* A autora é editora da revista AV Technology, PhD e professora da Franklin Pierce University. Para ver o texto na íntegra, clique aqui.