Templos e igrejas, um desafio para projetos acústicos


27 de outubro de 2015

igreja1

Por Dan Daley*            Nos últimos anos, espaços destinados a cultos de modo geral passaram a merecer mais atenção. Além do componente religioso, seus usuários e administradores vêm percebendo que a circulação do som ali é tão importante quanto em qualquer área de áudio ao vivo. Essa percepção tem a ver também com o desenvolvimento de novos recursos técnicos. Hoje, é possível projetar um sistema de som com muito maior precisão e, por exemplo, focar nas áreas de audição (os assentos) e evitar as superfícies reflexivas.

Nos EUA, esse segmento é conhecido pela sigla HOW (Houses of Worship), englobando igrejas, templos, sinagogas, mesquitas e todo tipo de espaço destinado a atividades religiosas. Com a possibilidade de controlar os sinais de áudio via software, tornou-se possível gerenciar melhor os eventos, seja para quando os espaços estão lotados ou quando há poucas pessoas presentes.

 

Igrejas e templos são usados hoje

não apenas para órgão e coro,

mas até para rock e música eletrônica.

O projeto acústico tem

que levar isso em conta.

“Antes, pensava-se apenas nos equipamentos”, diz John Storyk, que ajudou a projetar o lendário estúdio Electric Lady 46, de Jimi Hendrix, nos anos 60, e hoje tem uma empresa dedicada a projetos acústicos; entre seus clientes, há diversas igrejas e templos, assim como casas noturnas de Nova York. “Com a variedade maior de gêneros musicais usados nesses espaços, o foco começou a mudar para as instalações físicas e seus aspectos acústicos”, diz ele. “Quando se passa do velho formato órgão-coral para rock e música eletrônica do mesmo local, é necessário mais do que um bom equipamento.”

Bob McCarthy, que já projetou inúmeros espaços desse tipo e hoje dirige a fabricante Meyer Sound, diz que ainda não há suficiente preocupação com as questões acústicas. “A maioria dos usuários em templos e igrejas pensa mais na parte de vídeo”, explica. “Seria melhor se pudéssemos posicionar corretamente os alto-falantes, de forma a direcionar o áudio à plateia, explorando bem as reflexões das paredes.”

igreja2

A arquitetura, com pé direito alto, pode ser um problema para a propagação do som.

Isso, segundo McCarthy, limita a ação de muitos projetistas, já que a sala prioriza o posicionamento de telas e projetores e o campo de visão dos praticantes. Nesses casos, acaba-se optando por um número maior de falantes para preencher o espaço sonoro, resultando em custos mais altos.

Mesmo assim, o mercado de HOW é hoje um dos maiores dos EUA, oferecendo enormes oportunidades para integradores e projetistas que se especializam nesse tipo de solução. Storyk, por exemplo, desenvolveu habilidades para desenhar o espaço como um todo, além de especificar equipamentos e materiais acústicos, às vezes trabalhando em conjunto com arquitetos, engenheiros e profissionais de automação. Isso, diz ele, se deve em grande parte ao maior conhecimento que se tem das necessidades acústicas, inclusive com o uso de softwares como EASE, CATT e Odeon, específicos para predição do comportamento das ondas sonoras num determinado espaço físico.

“Às vezes, um instalador de AV finge que é engenheiro acústico”, diz um profissional que não quer se identificar. “Com esses softwares, está ficando mais fácil para quem não é especialista. Mas claro que isso tem limites. Não é por que tenho um processador de texto que vou saber escrever como Shakespeare”, brinca ele.

Embora a acústica continue sendo uma ciência etérea, suas manifestações hoje vêm em formas diversas, seja a proliferação de tratamentos acústicos ou a explosão de sistemas que focam a energia sônica em partes específicas da sala. Isso é útil, porque permite evitar as reflexões que tanto prejudicam a inteligibilidade.

Mas Robb Wenner, gerente de marketing da Auralex, que fabrica revestimentos acústicos, confirma que a demanda do segmento HOW está crescendo. “Em muitos casos, é apenas uma resposta dos administradores de templos à reação dos usuários, que se queixam de não entender o que ouvem”, explica Wenner. “Eles buscam materiais acústicos para corrigir os problemas de suas salas. A questão é que só descobrem isso depois que os equipamentos já foram instalados.”

Wenner acrescenta que muito desse fenômeno se deve ao fato de que os frequentadores de templos e igrejas também estão tendo outras experiências auditivas fora dali. Eles vão a cinemas com excelentes sistemas de áudio, têm home theater em casa, assistem a shows de música ao vivo, e assim acabam ficando mais exigentes quando vão a cultos, missas e sermões.

“Hoje, até lojas e shoppings possuem sistemas de som impressionantes”, diz ele. “E as atividades nos templos não se resume mais às manhãs de domingo e quartas-feiras à noite. Há outras atividades além dos cultos, e o sistema de áudio precisa estar adequado.”

 

Um erro comum é

acrescentar alto-falantes

sem levar em conta

as características acústicas

da igreja

 

Um exemplo que Wenner cita é a variedade de revestimentos temporários – placas e painéis acústicos que podem ser facilmente instalados e retirados conforme a ocasião. “Pode-se colocar um painel desses nos cantos da igreja, por exemplo, para absorver as reflexões primárias. Na verdade, esse tipo de solução existe há anos, mas só recentemente começou a ser usada em templos e locais de culto, pois esses espaços hoje têm configuração física diferente.”

Um erro comum, que deve ser evitado a todo custo, é adicionar mais alto-falantes ao ambiente. Na maioria dos casos, isso torna tudo pior, aumentando a reverberação. É um problema que se nota principalmente nas igrejas católicas, devido à arquitetura desses espaços, com pé direito muito alto. No entanto, não basta colocar mais caixas acústicas, a propagação do som no local deve ser repensada.

No entanto, alguns projetistas acham que essa é uma ótima oportunidade de negócio, já que o mais importante é que as mensagens sejam ouvidas e entendidas por todos. Sobre isso, uma recomendação interessante vem de Gary Siebein, dono de uma empresa de projetos na Flórida: “O fator reverberação não é necessariamente ruim. Ao contrário, faz parte do envolvimento que se busca durante o evento. As pessoas que gostam de ouvir umas às outras, na hora dos cânticos, por exemplo, e a reverberação lhes permite sentir-se como um grupo mais unido.”

© COMMERCIAL INTEGRATOR