QUANDO AS WEB TVs CORPORATIVAS SE TORNARÃO CAMPEÃS DE AUDIÊNCIA?


9 de maio de 2017

Por Claudio Odri*

Comunicação é necessidade básica do ser humano! A Internet potencializou essa habilidade e facilitou sua segmentação comercial. Essa combinação de fatores tornou o ato de comunicar uma ferramenta indispensável e cheia de possibilidades para o mundo corporativo. Quando sai da redação no meio dos anos 90 fui atrás desse mundo novo inexplorado muito além da imprensa tradicional. Pode parecer óbvio agora mas naquele período e para a minha área, jornalista fora de redação não era exatamente um bom exemplo de carreira. Fiz uma opção e a história, senão me absolveu, me poupou!

Nos meus vinte e tantos anos de redação, já havia tido experiência com a “imprensa escrita, falada e televisionada“. Andava encantado com a Internet e o streamingfacilitou tudo porque possibilitou trabalhar com vídeo na web. Daí para o conceito novo das WebTVs (estruturas análogas à televisão feitas para Internet) que começavam a abalar as caras e incipientes tevês corporativas era uma questão de tempo e custos.

Diante dos avanços da tecnologia, em breve, as empresas produziriam seus próprios canais e programação. Sempre apostei nisto. Errei no timing! A ansiedade é uma armadilha. Foram anos de projetos e pequenos ensaios. Foram vôos de avestruz para pegar referência moderna e carona na campanha da Samsung. Os publicitários são criativos e as ferramentas digitais aumentam as asas de qualquer imaginação. O fato é que as ideias precisam de tempo para germinar e florescer ou voar.

Lá se vão anos e as empresas ainda tateiam o mundo das WebTVs corporativas. Têm ferramentas, orçamento e, claro, sobra pretensão. Nesses anos perambulando pelo mercado vejo de tudo. Primeiro eram as produtoras de vídeo que faziam institucionais caros, normalmente, apresentados em momentos especiais da corporação. Depois estavam condenados ao ostracismo do CD-ROM, seguido pelo “exílio” de um DVD, com ares de memória e que acabava “anistiado” como um presente para colaboradores especiais.

O barateamento dos equipamentos trouxe os jovens nerds para a área e eles levaram esses vídeos corporativos para as intranets. Daí a começar a produzi-los foi um pulo e um susto para as produtoras tradicionais. Afinal, câmeras fotográficas gravam com qualidade e um iPhone aceita até lentes!

Preciso dividir uma experiência de viagem. Envelhecer tem que ter alguma vantagem! No meio dos anos 80, vi as primeiras estações digitais chegarem às redações. A reação dos Diretores de Arte foi de resistência e fidelidade burra às velhas pranchetas. Não demorou para que outros “jovens nerds” ocupassem o espaço e pilotassem o Pagemaker. Passaram a diagramar e produzir nos Macs. A produção aumentou, o custo diminuiu, assim como a qualidade. Alguns dos meus amigos, depois do susto, voltaram e se adaptaram. Outros, resistentes e teimosos, desapareceram entre bits e bytes. Conclusão? Não resista, adapte-se! Nada substitui experiência e conhecimento!

 

Empresas precisam lidar

com uma audiência diversificada.

Cada vez mais a mensagem precisa

ser personalizada e pessoal.

 

De volta às WebTVs, independente da qualidade técnica da produção, o grande problema sempre foi e continua sendo a falta de audiência e envolvimento com a programação. Nas empresas, o discurso de união da equipe e vestir a camisa é um mantra. Sobra para o pessoal da comunicação corporativa transformar esse exercício masoquista de autoajuda coletiva em mensagens inteligentes e com um mínimo de sinergia com os colaboradores.

Isto só piora, porque as empresas precisam lidar com uma audiência diversificada, crítica e com percepções peculiares da realidade. Assim, cada vez mais a mensagem precisa ser personalizada e pessoal. A solução, na prática, é um grande problema porque boa parte de diretores e gerentes acreditam ter o dom da palavra e falar o que os colaboradores querem e precisam ouvir. Boa parte desse problema vem do amadorismo e seu primo incompreendido, o improviso. Isto, por um lado, é resultado de uma leitura tosca que algumas áreas do mercado fizeram do movimento e soluções chamadas de Web 2.0 em meados dos anos 2000. De outro lado, é responsabilidade pura e simples do ego e da vaidade básica que nos torna, de repente, apresentadores e locutores!

Em algum momento da sua vida profissional você já deve ter se deparado com aqueles vídeos constrangedores onde diretores geniais, na sua área de atuação, mas sem intimidade alguma com o universo da comunicação, familiaridade com a câmera ou a língua pátria sofrem para dar o recado. Algo que deveria ser dito em 30 segundos se eterniza em sofríveis e infindáveis minutos!

A lista de amadorismos é longa e vai das questões técnicas como falta de focoluz ruimsom inaudível ao tratamento do conteúdo, onde profissionais esforçados e improvisados ainda não descobriram a importância da pauta, por que fazer um espelho grade de programação ou dar tratamento diferenciado na edição de acordo com os temas.

Apesar de toda a tecnologia disponível, as empresas economizam no elemento crucial que faz a diferença no resultado final das suas produções: o profissional de comunicação. Veja, não me refiro apenas ao jornalista. Aquele improviso que mencionei lá no início fez escola.

Desde National Kid, muito antes do Repórter Esso e depois de Mad Men, está claro que forma e conteúdo, cada vez mais, andarão juntos. Canais e plataformas segmentarão o público. Se no passado nossa vida na televisão se resolvia em 4 ou 5 canais de TV, hoje os mais de 100 parecem longe de nos atender. Isto sem falar no YouTube, Netflix e correlatos. O que está acontecendo?

Segmentação e disponibilidade de meios para falar com você onde você estiver! Isto já desmistificou a TV e mostra que comunicação nesses tempos digitais funciona em nichos. Por tudo isto, as WebTVs corporativas são inevitáveis e necessárias. Contudo, precisam ser cada vez mais profissionais e originais com seu conteúdo. Então, mais do que nunca, atenção porque se você acha caro o investimento em profissionais, espere chegar a conta da economia feita em amadores!

*O autor é jornalista e diretor da CdClip. Texto publicado originalmente no Linked In.