Os segredos de uma boa rede Wi-Fi na empresa


1 de fevereiro de 2016

wif2empresa

Por George Tucker*Redes sem fio com uma boa infraestrutura de suporte deixaram há tempos de ser um luxo, tornando-se uma necessidade. A demanda por conexões de alta velocidade só tende a aumentar. Dentro de uma empresa, os funcionários precisam continuamente de conexão confiável, seja para aplicações de vídeo ou na simples troca de emails. Hoje, pode-se afirmar que todo cliente espera encontrar uma rede Wi-Fi que seja, no mínimo, tão boa quanto uma rede cabeada.

Alguém já disse que a tecnologia Wi-Fi é o método de comunicação mais conveniente já inventado. Mas também é verdade, infelizmente, que se trata de uma fonte permanente de problemas. Uma crença comum é de que, nessas redes, basta conectar um aparelho e pronto! Mas claro que não é bem assim. E os projetistas, assim como os gerentes das empresas, precisam estar atentos para a robustez do sistema. E, na prática, há muito que se pode fazer simplesmente otimizando alguns aspectos da instalações, sem que alguém precise mergulhar na complexidade das configurações.

Um bom exemplo disso está nas frequências de comunicação utilizadas na rede. Determinar quais são e quais os canais estão ativos é essencial, e depende fundamentalmente da infraestrutura montada no prédio. Vamos aqui nos concentrar nas faixas de 2.4 e 5 GHz, as mais usadas atualmente.

 

Por não serem licenciadas,

redes Wi-Fi sempre sofrem

interferências. Mas não

podem provocá-las.

 

Antes, um lembrete: nos EUA, todos os equipamentos de rede precisam ser homologados pela FCC, com base no protocolo ISM (Industrial, Scientific and Medical), que define as partes do espectro que não são licenciadas. No Brasil, o mesmo se aplica à Anatel: todo produto deve trazer esse selo de certificação. As duas faixas de frequência citadas são abertas, ou seja, qualquer pessoa ou empresa pode utilizá-las e qualquer fabricante pode produzir aparelhos para isso.

No entanto, cabe ao usuário (com seu integrador) garantir que essa comunicação não cause interferências em redes vizinhas que sejam licenciadas. Pode parecer curioso, mas quem opta por usar uma faixa não licenciada está automaticamente aceitando que ela sofra interferências, mas o oposto não é permitido.

Bem, desde sempre as redes Wi-Fi existem para acomodar múltiplos usuários simultâneos, operando no padrão RF (rádio-frequência). O espectro é dividido em segmentos, chamados “canais”. Na faixa de 2.4GHz, as interferências são mais comuns, porque ali cabem até 11 canais. O que o instalador tem de fazer é ligar um analisador de espectro, acessório que permite verificar quais canais estão disponíveis e qual o nível de interferência entre eles.

Embora seja menos congestionada, a faixa de 5GHz também tem alcance físico menor: o sinal é muito mais fraco, por exemplo, que o de TV digital, ou mesmo de transmissões de rádio pelo ar. Paredes e outros obstáculos podem simplesmente inviabilizar a conexão. Cabe verificar atentamente o posicionamento das antenas e dos repetidores em todas as salas.

Todo mundo sabe que esses dispositivos precisam de boa “visada”: a melhor posição é sempre aquela em que antena e repetidor “se enxergam”. No caso de uma casa ou edifício com dois andares ou mais, portanto, a posição ideal é a mais alta possível. Além de melhorar a transmissão em si, isso também minimiza problemas de reflexão do sinal nas paredes e de anulação dos comprimentos de onda.

Aqui, tanto a distância quanto o tamanho dos obstáculos contam muito. Uma coluna de alvenaria irá bloquear mais se estiver a 3m da fonte de sinal do que se estiver a 10m. Parece óbvio, mas nem todo instalador leva isso em conta ao projetar os espaços. E atenção: a restrição vale também para armários, arquivos metálicos, móveis e até seres humanos!

 

Ondulações do teto,

ou do telhado, também podem

prejudicar a transmissão

do sinal Wi-Fi.

 

Outro detalhe interessante: evite colocar antenas ou repetidores em cantos, ou muito encostados na parede, pois isso faz aumentar as reflexões. Mais: evite a proximidade com portas e janelas metálicas, racks e não permita colocá-las penduradas no teto; saiba que as ondulações do telhado, ou eventuais saliências da superfície interna, também prejudicam a transmissão do sinal Wi-Fi.

Profissionais experientes conhecem também a regra de como os sinais são captados por uma antena. No caso de uma parabólica, como as de TV paga, a recomendação é apontá-la para onde está o transmissor (no caso, um satélite), otimizando assim a recepção: os sinais chegam pelas bordas e são automaticamente direcionados ao centro da parabólica.

Mas, numa antena Wi-Fi, acontece exatamente o contrário: o excesso de direcionamento dificulta a propagação. A antena não deve ser “apontada” para determinado local e, sim, para cobrir toda a área onde o sinal deve circular; quanto maior a cobertura, melhor.

Ainda sobre antenas, em certas situações torna-se necessário adotar os modelos do tipo HG (high-gain), que amplificam o sinal e chegam a dobrar o alcance. Mas não se deve exagerar: isso pode introduzir ruídos na transmissão. Dê preferência a antenas de 4 ou 8dBi. Verifique também que essas antenas não sejam instaladas muito alto, pois com isso o sinal pode ser bloqueado em determinadas áreas do prédio. Enfim, o segredo de um projeto desses está em saber combinar tipos diferentes de antenas e transmissores, com bom senso.

É claro que, quando a área a ser coberta pelo sinal é muito grande, a simples adição de antenas pode não ser suficiente. Vale a pena pensar em espalhar roteadores pelo edifício, todos conectados a um sistema central. O problema dessa solução é que, na prática, vêm sendo relatados muitos problemas derivados dessa comunicação centralizada. Pelo que se conhece até agora, a solução mais eficaz está nos APs (access points), que são repetidores – bem mais simples que um roteador – que só precisam estar visíveis ao módulo principal da rede.

 

Numa rede mesh,

os dispositivos de comunicação

atuam de forma “colaborativa”,

prevenindo quedas no sistema.

 

Um AP pode se conectar à rede Ethernet da empresa (via cabo), ao roteador principal (wireless) ou a outros APs. É o que encontramos, por exemplo, em cafés e restaurantes que oferecem conexão gratuita a seus clientes, sem que estes precisem fazer configurações específicas.

Unidades WAP (Wireless Access Point) são eficientes também para implantar redes mais encorpadas, do tipo mesh (“malha”). Enquanto uma rede comum simplesmente envia o sinal a um determinado roteador, numa rede mesh os dispositivos atuam de forma “colaborativa”. Em vez de pular de uma antena ou receptor a outro, o AP localiza automaticamente o sinal mais forte disponível e o direciona aos aparelhos conectados. Significa que, se um dos elementos da rede por algum motivo para de funcionar, os demais continuam recebendo o sinal normalmente.

Finalmente, um lembrete a respeito dos analisadores de espectro. Até pouco tempo atrás, eram aparelhos complicados e pesados, que chegavam a custar alguns milhares de dólares. Hoje, basta um computador com adaptador USB e um software. Na tela, vê-se uma transcrição gráfica dos canais de frequência disponíveis na área. Alguns softwares já permitem identificar a melhor posição para os receptores na sala, o raio de cobertura, e sugerir a melhor alternativa.

 

*Texto publicado originalmente no site Corporate TD.