Internet das Coisas começa a entrar no segmento de facilities


3 de novembro de 2015

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Por Naomi Millán*Já é consenso que a Internet das Coisas é o próximo passo no gerenciamento de edifícios. Fabricantes já desenvolvem uma série de sensores e sistemas de controle que se comunicam entre si. Mas há um problema: o quê exatamente é possível fazer, e o quê já está sendo feito, nessa área? E será que os gerentes de facilities  estão entendendo bem a mudança? Será que confiam nessas inovações?

O conceito que chamamos Building IoT (veja este vídeo) se baseia principalmente em três aspectos da administração predial: gerenciamento das operações, otimização dos espaços e manutenção dos equipamentos. E não há dúvida que os novos recursos podem facilitar tanto a vida dos gerentes quanto das próprias pessoas que ocupam o prédio.

Na verdade, grande parte dos edifícios já contam com bons recursos de automação, mas IoT representa uma aceleração na integração dos sistemas, ajudando a reduzir os custos operacionais e aumentar a eficiência dos serviços, como diz Ron Zimmer, presidente da CABA (Continental Automated Buildings Association), entidade que reúne centenas de prestadores de serviço do segmento, nos EUA e Canadá. “O objetivo é integrar dispositivos inteligentes com sistemas de rede que se controlem automaticamente, sem necessidade de intervenção humana”, explica.

 

EM TODOS OS LUGARES

Isso não significa que os facility managers irão perder seus empregos, ao contrário, as ferramentas para operação mais eficiente e sistemas programáveis logo estarão em suas mãos. O conceito Building IoT traz consigo um benefício que todo mundo procura: a possibilidade de se estar ao mesmo tempo em todos os lugares do edifício. Sensores podem ser instalados em todas as dependências, e interconectados, de tal maneira que o sistema de aquecimento central, por exemplo, envie informações atualizadas ao gerente em tempo real. Ou o sistema de iluminação, ou até mesmo as latas de lixo e os recipientes de papel higiênico.

Mais do que isso: todos os dispositivos podem se comunicar entre si. Em vez de ir pessoalmente checar um filtro de água, o próprio filtro possui um sensor que informa se está funcionando normalmente ou precisa de manutenção. “Em separado, todas essas informações são inúteis”, diz o especialista Thomas Grimard. “Mas, com IoT, elas são formatadas e organizadas, tornando-se extremamente valiosas a quem administra o prédio.”

 

Num prédio com IoT, todos os equipamentos se comportam conforme os parâmetros estabelecidos.     E qualquer deficiência é identificada e resolvida de modo muito mais rápido, às vezes até sem que os ocupantes do prédio percebam.

 

Segundo a consultoria internacional McKinsey, a maior parte dos dados disponíveis hoje nos edifícios não é utilizada, porque usuários e gerentes se preocupam mais em detectar e corrigir defeitos, e não em otimizar o sistema e instalar recursos para verificação prévia (prediction). Este é o maior valor das tecnologias de integração: poder antecipar os problemas que podem acontecer.

Para gerenciar todos os dados de um edifício e fazer bom uso deles, Grimard acha que a tendência é utilizar a nuvem. Essas funções devem ser terceirizadas a empresas especializadas, que monitoram e analisam as informações. Dados mais relevantes – como defeito num equipamento ou na distribuição de energia – são enviados ao gerente de facility num formato que lhe permite tomar providências rapidamente.

 

SISTEMAS COMO SERVIÇO

Isso já acontece em alguns prédios, em que as empresas contratadas para instalar os sistemas permanecem como fornecedoras dos serviços de manutenção e monitoramento. “Os aparelhos são iguais em todos os lugares, um processador é sempre um processador. O que muda é como eles se integram, e é nessa direção que caminha o nosso mercado”, prevê Grimard.

Além de transformar aquela enorme quantidade de dados colhida pelos sensores em informação que possa ser verificada, o gerenciamento dos sistemas é um serviço que auxilia os gerentes na hora de atualizar as coisas. O conceito SaS (system as a service) inclui a troca automática do software quando necessário. “Vai chegar um dia em que será mais caro manter no prédio um sistema stand-alone do que um serviço em nuvem”, continua Grimard.

Funcionamento mais eficiente é o grande benefício trazido pela Internet das Coisas, mas há outros aspectos envolvidos. Os gerentes conseguem entender melhor a forma como os ocupantes do prédio utilizam seus recursos. É possível gerenciar o uso das luzes, ou reduzir o ar condicionado em certos momentos, para economizar energia, ou ainda regular melhor o tráfego de veículos dentro do prédio. Esses dados podem circular até mesmo em redes sem fio, via Bluetooth.

 

ACCOUNTABILITY

Um aspecto que nem todo mundo leva em conta, mas que é cada vez mais valorizado em edifícios comerciais, é o que nos EUA se conhece por accountability. Refere-se à responsabilização das pessoas nas questões relacionadas à segurança da edificação e a seus usuários. Numa emergência, uma sequência de fatos deve ocorrer rapidamente, e IoT pode aumentar a velocidade das respostas. No dia a dia, torna o ambiente mais seguro para todos, mas a possibilidade de prevenir é ainda mais importante. O sistema se comporta conforme os parâmetros estabelecidos, e qualquer deficiência é identificada e resolvida de modo muito mais rápido, às vezes até sem que os ocupantes do prédio percebam.

Além disso, IoT traz um outro tipo de conforto, chamado “controlabilidade”. Já está provado que ter algum grau de controle sobre o ambiente de trabalho é um atributo altamente desejado nas organizações. Da iluminação direcionada a determinados espaços à intensidade do aquecimento e à entrada de luz externa, com acionamento automático de cortinas, os ajustes podem ser mais personalizados, aumentando os níveis de conforto dos usuários. “Isso é difícil de quantificar, mas tem impacto direto sobre a produtividade”, diz outro expert no assunto, Herbert Els.

 

BEACONS

A personalização do ambiente de trabalho pode ser ampliada em todas as instalações do prédio, com o uso de IoT. Exemplo: quando um funcionário chega e passa seu crachá pelo controle de acesso, o sistema de segurança envia essa informação à central de controle, que então, automaticamente, acende as luzes e aciona o ar condicionado na sala onde aquela pessoa trabalha. O mesmo pode ser feito em sentido inverso, quando o funcionário vai embora. O próximo passo, diz Els, é adotar a tecnologia de beacons, na qual o edifício identifica a pessoa e lhe dá acesso automático, simplesmente através de um sinal Bluetooth captado de seu smartphone, sem necessidade de passar o crachá.

São aplicativos de localização, já adotados, por exemplo, em estádios e aeroportos, para facilitar os deslocamentos e até as ações promocionais das empresas patrocinadoras. “Você pode sentar em qualquer lugar do estádio, e nós conseguimos localizá-lo, para entregar a comida que você pediu exatamente ali”, explica Els.

A tecnologia beacon (veja aqui uma explicação em português sobre isso) pode ser particularmente interessante em ambientes hospitalares, onde a satisfação do usuário é crucial. Sua experiência já começa no estacionamento, prossegue Els. “Um dos principais motivos de stress é encontrar vaga para estacionar e depois chegar até o ponto de atendimento aonde você precisa ir. Com os beacons, já na entrada você é direcionado a uma vaga disponível e depois, usando a conexão Bluetooth do smartphone, mais algum app de localização, chega rapidamente ao lugar desejado.”

 

FEEDBACK

Por fim, em qualquer estabelecimento comercial é fundamental a questão do feedback do usuário. Com Building IoT, os ocupantes podem fazê-lo em tempo real, informando sobre as condições do prédio, o que por si só já amplia os níveis de conforto, limpeza e segurança. Existem hoje diversos apps para isso. “Teremos cada vez mais interação nos sistemas de edifícios”, prevê Dev DuRuz, que é consultor nessa área. “Quanto mais feedback dos usuários, maior a quantidade de dados disponíveis para se tomar as melhores decisões de modo mais rápido e eficaz. Hoje, muitos deixam de renovar o aluguel do espaço devido a problemas que podem ser facilmente gerenciados com esses controles. IoT pode ser, além de tudo, é ótima forma de melhorar o relacionamento.”

*Texto originalmente publicado no site Facilities Net. Para ler o original na íntegra, clique aqui.