Apple prepara entrada no segmento corporativo


8 de junho de 2015

Por Bill Detwiler*Steve Jobs era notoriamente uma pessoa ambígua, e frequentemente hostil, quanto à ideia de criar produtos para o mercado empresarial. Em 2010, ele disse ao The Wall Street Journal que odiava esse segmento porque “as pessoas que usam os produtos não têm poder de decisão, e as pessoas que decidem às vezes são confusas.”

Cinco anos depois, muita coisa mudou. O atual CEO da Apple, Tim Cook, abraçou o mercado corporativo. Durante a apresentação de balanço do primeiro trimestre de 2014, ele divulgou alguns números:

*97% das empresas que constam da lista Fortune 500, e 91% das Global 500, utilizam iPhone;

*No caso do iPad, são 98% e 93%, rerspectivamente;

*E 90% das ativações de tablets nas corporações são de iPads.

Embora reconhecendo que a conquista desse segmento de mercado não acontecerá do dia para a noite, Cook diz que a empresa já tem um excelente ponto de partida: “É diferente do mercado de consumo, onde simplesmente se vai a uma loja e se compra o produto. Pelos números acima, pode-se notar que já construímos boa parte da base, e acredito que isso trará mais frutos no futuro.”

De fato, graças a essa base, a Apple está posicionada para atrair um bom pedaço dos mercados de hardware e software corporativos, que há décadas é dominado por nomes como Microsoft, IBM, HP e Dell. Aqui estão cinco coisas que a empresa de Cook já fez para que esse segmento adote seus produtos:

1.As pessoas querem usar – A Apple foi a empresa que mais incentivou o uso de TI na história recente. Nos EUA, estudantes que adquiriram MacBooks usados na escola passaram a utilizá-los também no trabalho. Executivos que compraram seus iPhones começaram a cobra que os departamentos de TI de suas empresas lhes dessem suporte. Vendedores começaram a carregar seus iPads não só em viagens de férias, mas também em reuniões com clientes. A afirmação de Steve Jobs fez sentido na maior parte da história. Mas, no final da década passada, isso começou a mudar. Os departamentos de TI não podiam mais ignorar a avalanche de produtos de consumo que estavam entrando em suas redes (muitos deles eram da Apple), incluindo aqueles integrados a programas do tipo BYOD (bring-your-own-device). Numa pesquisa recente da consultoria Tech Pro, 77% dos entrevistados disseram que suas empresas passaram a adotar aparelhos Apple, ou permitir que seus funcionários trouxessem os seus. Essa foi uma reivindicação dos próprios funcionários; em alguns casos, as empresas decidiram liberar a escolha dos equipamentos utilizados. E a Apple tornou seus aparelhos mais fáceis de ser integrados às redes existentes.

2.Apple e Windows agora combinam melhor – Houve um tempo em que não se podia simplesmente transferir arquivos entre um aparelho Windows e um Mac. Hoje, tanto o sistema da Microsoft quanto o OS X oferecem suporte total a arquivos formatados em FAT32 (o que inclui a maioria dos drives USB flash). Aparelhos OS X podem ler arquivos NTFS, e já existem ferramentas para ler arquivos HFS+, da Apple, em Windows. Além disso, os produtos da Apple hoje se integram mais facilmente a qualquer tipo de rede, dando suporte inclusive ao aplicativo Exchange e ao Office.

3.Software hoje depende menos do sistema operacional – Além dos arquivos serem hoje mais fáceis de se acessar em Windows e Macs, isso também vale para os aplicativos usados nas empresas. As principais suítes de produtividade (processadores de texto, planilhas, apresentações, email etc.) estão disponíveis para os dois sistemas operacionais. E, se os funcionários trabalham mais com software de internet (Google Apps, Salesforce, Box e outros), o sistema operacional na verdade não importa muito. Para quem precisa mesmo do Windows, sempre é possível utilizar o utilitário Boot Camp, do OS X, ou um software de terceiros, para rodar Windows num Mac.

4.Ferramentas de gerenciamento – Além de facilitar o uso de seus produtos nas empresas, a Apple quis torná-los também mais fáceis de gerenciar. Com a ferramenta ARD (Apple Remote Desktop), profissionais de TI pode distribuir software, rodar relatórios, automatizar tarefas e compartilhar telas para suporte remoto. Muitos produtos (como LANDesk) já são compatíveis com Mac. Na App Store, já existe até uma versão do Microsoft Remote Desktop para OS X. E, para gerenciar todos os iPhones e iPads na empresa, existem diversas ferramentas de gerenciamento móvel, como Profile Manager e Device Enrollment Program (DEP).

5.Um segredo: as lojas Apple – A rede internacional de Apple Stores também pode ajudar muito na conquista do mercado corporativo. Uma empresa que tenha funcionários em determinada cidade, onde haja uma loja Apple, pode transformar o Genius Bar numa extensão de seu departamento de TI. Aparelhos cobertos pela garantia AppleCare pode ser levadas ali para conserto. Além disso, a Apple criou o programa Joint Venture para levar às empresas treinamento e suporte customizado. Os atendentes das lojas também são instruídos a procurar entre os clientes aqueles que são usuários corporativos, pedir seus cartões de visita e recomendar o programa a eles.

Em julho do ano passado, a Apple anunciou parceria com a IBM para crias aplicativos empresariais na plataforma iOS. A IBM passou a adotar ainda o programa AppleCare for Enterprise, com assistência remota 24/7. Em janeiro último, foi contratado John Solomon, ex-vice-presidente da HP, com o cargo de vice-presidente para Empresas e Governo. Logo em seguida, a Apple começou a procurar executivos de vendas com esse mesmo perfil.

Ou seja, com seus US$ 742 bilhões de valor de mercado, a Apple – que pode logo se tornar a primeira empresa americana de US$ 1 trilhão, e que sempre se dedicou ao mercado consumidor – pode sem dúvida estar enxergando o setor corporativo como parte de seu futuro.

Clique aqui para ler o original deste artigo, em inglês, na íntegra.